terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Diálogo






Balbuciei qualquer coisa
Ora o que poderia dizer?
Aquele anjo dançando na pista
Nem saberia descrever.
Ela me achara engraçado,
Mostrou-me com um sorriso
E eu atento ao seu gingado,
O seu corpo um delírio!

Ela manifestou interesse,
Bradei que fôssemos lá fora conversar,
O som alto clamava ritmos,
Mas me impedia de sussurrar.
Até poemas recitei
Ela animada discorreu da vida
Um beijo decretei,
Doce beijo de menina.

O Sol proclamava
Que o dia começava a surgir,
Confesso que não vi
Nem ouvi o Sol bramir.
Vários outros encontros aconteceram,
Meu coração sempre tentando dizer algo
Que meus olhos já divulgavam:
Eu? Apaixonado?

Com ela eu me sentia ao revés
A cabeça lá nos pés,
Segredava anúncios
E anunciava segredos.
Gaguejei, mas o que sentia tinha que expor,
Eu a pedi em namoro
E declamei o meu amor,
Ela tímida, quem diria, aceitou!

Trazia todo dia um abraço
De calor inarrável.
Enunciar suas qualidades
Não caberiam em um simples relato.
Ainda articula o brilho
Que Deus deixou quando a fez
Intacto em seu riso e face,
Igualmente inenarráveis.

Seus olhos acentuavam
Cada palavra doce que sua boca discursava,
Enquanto seus fios propalavam ao ar
Uma nova cor de cabelo,
De vez em quando saía um pensamento,
Em meio à melodia que insistia a emanar
Do seu corpo e do meu ao vê-la
Cogitava em casamento.


Tão rápido quanto me veio
Esvaiu-me essa ideia,
Eu não era o cara certo
Como afirmava a mãe dela.
Mas a essa altura do deserto
O Sol agora só salienta,
Neguei que o amor havia acabado
Mas revelei que faltava algo.

Contei do ciúme que tinha
Aquela linda fada nem via
Tanto tempo enamorado
Sentia-me isolado.
Entre murmúrios e mexericos da vida.
Desconsoladamente ela aludia
A um tempo que tristeza não existia,
Eu que o diga!

O universo ponderava por nós,
Como ele me havia dito,
Pois aquela chuva trouxe frio
E vontade de me aconchegar naquele abraço.
Os concelhos com aquela graciosa voz
Pareciam até fazer sentido.
Quando no outro dia a porta abriu
O velho Sol explicava o embaraço.

“Eu a amava!”
Pronunciava a quem quisesse escutar
Mas quando fui mais uma vez lhe exclamar
Ela não me deixou exprimir,
Chorando ela começou a referir:
Mencionou minha incerteza,
Propagou o desafeto ao meu jeito quieto
Que até a vizinha já sabia.

Não previa que ela se sentia tão sozinha
Quando o sozinho era eu!
Mas nunca comuniquei.
Com o orgulho ferido falei,
O que não devia falar
Ela citava os defeitos que eu encontrava nela,
Como cena de novela
Ela saiu, sem nada mais a declarar.

Tentei juro que tentei,
Eu poderia ter parado ela.
Agora me martirizo pelo silêncio que se estendeu,
Como uma geleira que derreteu
Inundou meu peito de mágoa,
Meu coração quebrei,
Pelo diálogo que não incitei
E o perdão que não consegui proferir.

domingo, 13 de novembro de 2011

Discurso de Formatura do Ensino Médio 2010

" - Já faz um ano que eu me formei, decidi publicar esse texto agora para ajudar os oradores desse ano terem inspirações, tem coisas que são totalmente inesperadas que não importa o quanto planeje vão te surpreender e geralmente sai tudo perfeito, * eu não esperava que eles também me desejassem "boa noite". Não se prolongue tanto quanto eu, enxugue bem o seu texto, use piadas internas e divirta-se!

Saudade da minha turma! Alguns amigos eu continuo revendo, outros nem tanto quanto eu gostaria, mas fato é que fiz novas amizades, e nunca esquecerei dos tempos de ensino médio, é vida que segue..."
(Eh esse sou eu, mas minha voz não é assim, sério!)
Cumprimento a mesa na pessoa da professora Sonara Liana Martins, Caros formandos, amigos, familiares, professores e convidados, Boa Noite.
Há alguns anos iniciávamos nosso caminho em busca do conhecimento, mais por obrigação do que por opção. Hoje estudar já é um consentimento, maduros o suficiente para adaptarmos a novas realidades buscamos conquistas que vêm sempre acompanhadas de responsabilidades. E acreditem meus amigos estamos preparados, se o jogo ainda não está ganho, já saímos na frente mas ainda há muita trilha a seguir, afinal nossos sonhos são altos, tão altos quanto podemos conseguir.

domingo, 25 de setembro de 2011

À melhor amiga:



(Arte: Jean F Souza )

És do tipo de pessoa
Imortal em meu viver:

Que se fosse abduzida,
Não existissem celulares,
Não pudesse escrever,

Que se fosse atrevida
De morar e
m outros lares
E não quisesse corresponder,

E se outra melhor amiga
Eu conhecesse mais milhares.
Se me fizesse entristecer.

 
Ainda assim,
Quando extinguindo a vida
A morte me assolasse:
Eu lembraria de você!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Filha da Água


  (Arte: Jean F Souza )

Sou filha do solo e a água é minha verdadeira mãe, no centro de um país tropical enfinquei minhas raízes, onde nasceram meus filhos e netos, tão numerosos quanto a extensão desse chão.

Já velha, sou baixa e enrugada. Há quem me chame de “casca grossa”, sou até simpática, mas em verdade estou bem acostumada ao forte sol da região, e a baixa umidade não me assusta tanto quanto uns tais imigrantes.

Crio animais de várias espécies e cores e cubro cuidadosamente o solo com cobertura orgânica que o mantêm úmido e fértil. Mas esses novos moradores não entendem o sistema e ateiam fogo as minhas plantações para limpar o terreno e vão matando meu pai. Enquanto já não posso respirar e meus animais se escondem assustados, chuvas de cinzas caem do céu espalhando a morte canto a canto.

Meu corpo queima, mas meu grito não se faz ouvir, o que eu chamava de casa está entregue as labaredas. Tudo ao meu redor é negro, arde e transpira, como um último suspiro em vida.

sábado, 11 de junho de 2011

Alzheimer



(Arte: Jean F Souza )

Queria ter uma ampulheta mágica,
Que me trouxesse de volta:
Toda unha que cortei,
Todos os amigos que perdi,
Toda saudade que eu curei.
Quem me dera se não tivesse passado,
Cada dor que eu já senti,
Todo amor que eu entreguei,
Cada lágrima que eu verti,
Toda desilusão que eu já passei.
Lembrar dos nomes das pessoas,
Dos figurantes do meu filme,
De cada minúscula coisa,
Que já me aconteceu.

Queria lembrar dos momentos importantes,
Até dos mais infames, traumas e frustrações.
Queria o regresso das minhas fobias,
Reviver cada hora dos meus dias,
Reler meus planos e anotações,
Ainda que não me levassem a nada,
Todas as vozes das minhas fitas de volta,
Todas as imagens refletidas em espelhos,
Retomar posse de cada célula morta
Que a minha pele expeliu
Todos os discos da moda,
Ainda que meu som não toque mais vinil,
Cada chacota que eu ouvia na escola,
Toda roupa que me vestiu.

Já que são minhas, quero de novo,
Cada gota de suor que já me esvaiu,
E que estejam nos meus pés, cada pegada que larguei,
Toda digital que espalhei,
E até as marcas que eu evitei deixar.
Desamores e traições, lhes exijo posse,
Ainda que meu peito não suporte,
Cada paixão que me feriu
E cada garota que eu não pude amar,
Uma ampulheta mágica que me lembrasse,
E quebrasse o silêncio que me dói,
Das tramas e vertigens, da sensação de morte que me habita,
Queria poder contar a história da minha vida.
E como tão linda era, ou penso que foi.


Os metros de cabelos, que insistia em cortar,
Poderiam me dizer se eles foram sempre brancos.
Não queria mudar tanto,
Abrindo mão de coisas pelo caminho.
Se cada olhar de ternura ficasse comigo,
Não me sentiria sozinho.
Como um garoto catando conchas no mar,
Queria colecionar os motivos que me faziam rir,
Teria um mapa com os caminhos que escolhi
E estes que me escolheram.
Guardaria um frasco de perfume raro
Com todas as rosas que os meus jardins proveram,
Possuiria uma caixa com todo o dinheiro
Que sujaram as minhas mãos.

Queria uma ampulheta de condão,
Que me tornasse um ser absoluto,
De cicatrizes que ainda jorrem sangue
P'reu saber se meus cortes são profundos.
Recordar cada cidade que visitei
E até das que nunca tinha visto antes,
Que cada rio que eu banhei
Continuasse a enrugar minha pele.
Ainda que a minha inquietude não cesse,
Teria enclausurado meus amigos em porões
Só pra nunca esquecer seus rostos,
Saber se amei como se deve,
Se provei todos os gostos,
Se me valeram as orações.

Será que fui feliz, correto, propagador da paz?
Queria a lembrança dos meus filhos e netos,
Em troca desses estranhos que me chamam de pai.
Teria sido afável e honesto?
Ou me deixei corromper?
Se eu tivesse uma ampulheta sem areia,
Que prendesse o tempo,
Forjaria todo o meu destino.
Visitaria a glória de uma vida ao acaso,
Em que nada teria fim.
Se eu fosse pleno,
Não perderia a minha vida assim,
Não precisaria tanto da memória
E ninguém me roubaria de mim.

sábado, 30 de abril de 2011

Poema Concreto

Diz, Por                 um Triz
Tenho tua boca tesa,        Carregada de tristeza,
O que contradiz o teu passado / Em uma simples distração
e por tradição, eu dei o primeiro passo. Teus braços me amassam./Os nossos laços
        se trancam com atração/ Enquanto teus lábios dizem não/ Teus olhos são  contra?
   Se tua saliva for à favor, Não tem volta... Nem a contramão importa,
  Se  condiz   com  o  que  senti.  Com  visão  consenti:
  Contraí meu coração, que por detrás do peito faz
Contradição.

sábado, 16 de abril de 2011

Viagem



(Arte: Jean F Souza )
 Voo em meio a astros e foguetes,
Não me atraso,
Vou de nave.
Se me perco, pego uma luneta
E te avisto de longe,
Bela Estrela.

Quando te vejo
A Lua é quem sabe,
Quando crescente
Parece que adivinha,
Desfila sorridente,
Tamanha felicidade minha.

Figuras policromáticas
Pintam o universo infinito,
Vi seus olhos
Num colorido cósmico bonito,
Que nem sei o nome,
Nem precisava saber.

Minha nave me abandona
"Caro ET, dê carona!"
Vou de disco voador!
Passei por tantas galáxias
Ainda tenho que achar a Via-láctea
Para encontrar a minha flor.

Se avisto uma cadente
Desejo estar ao seu lado,
Pego de Saturno um anel emprestado
Pra te presentear.
Atravesso o Universo,
Só pra te conquistar.


E se caso interessar,
Numa viagem interestelar,
Levarei você comigo:
Com chuva de cometas,
Explosões de estrelas
E poesia ao ouvido.

"Obrigado amigo,
Desço na segunda à esquerda,
No Ponto de Ônibus Espacial,
Pago só meia tarifa
Deste até o próximo planeta
O meu caso é especial."

Pouso no mundo mais lindo,
Não corro perigo.
Depois dessa viagem pelo cosmo,
Vou de moto,
Qualquer coisa
Eu arrisco!

Procuro tua cidade,
Procuro minha verdade,
Vou rabiscar meu prontuário
Constelações vão me guiar,
Hoje Mercúrio está em Aquário,
Tempo certo pra te amar.

Um encontro,
Um beijo, um verso,
Que deixam de lado
Qualquer fenômeno intergaláctico,
Imaginável ou supositado,
Nesse vasto Universo.

Estou feliz, estou todo prosa
Com sóis brilhando no meu peito,
Minha viagem chega ao fim.
Meu sentimento agora é Supernova
Que se explode em Buraco Negro
E te suga pra dentro de mim.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nós Robôs



(Arte: Jean F Souza )
Cada robô com a sua codificação
Suas peças parecidas
Suas memórias já vividas
Com seu conjunto alienação.
Iguais em suas diferenças
E quantas diferenças,
Quanta confusão!

Cada um com seu querer
Seus olhares,
Suas bocas, suas faces,
Inigualáveis a qualquer outro ser.
Cada um com seu gosto,
Com seu piercing no rosto
Ou tatuagem na alma.

Cada um com seu chá que acalma,
Com sua comida preferida,
Com sua música mais bonita,
Na sua opinião.
Com seu jeito de fazer tudo perfeito
Qualidade ou defeito,
Ou só intuição?

Cada um com sua indumentária
Seus penteados de cabelo
Sua arcada dentária
Sua íris, seus pelos,
Sem igual...
Cada um com a sua digital,
Sua linha de vida.

Cada um com suas teorias,
Cada louco com a sua mania,
Com seu grupo de amigos,
Que por sua vez têm outros amigos
Que não são nem seus conhecidos.
Dignos ou indignos,
Confiáveis ou inimigos?

Cada um com seus valores,
Com seus desejos,
Seus credores.
O seu jeito de falar,
O seu timbre de voz,
A escolha entre amar
Ou ficar a sós.

Mas por que o mundo
Insiste em ser tão igual?
E até os sentimentos
Têm que ser padronizados.
Não se muda de canal,
Não se cria pensamentos,
Não temos esse cuidado.

Entiquetados estamos todos,
Nós robôs,
Frutos de diversos lotes,
Tentando ser autênticos,
Sendo idênticos.
Quem dita as regras são os outros.
Afinal quem nos roubou?

O direito de escolher,
O anseio de aprender.
Cada um tem seu passo,
Seu auto-retrato,
A maneira de ver o mundo
E o mundo o ver,
Deixem-nos viver!

Hoje um terremoto aciona
Uma antiga virtude,
De fazer o que penso
E não o que me dizem,
Ser quem eu sou,
Dessa vez meu controle remoto não funciona
Mas minha pilha ainda não acabou...

domingo, 3 de abril de 2011

É Tempo de Saudade






 O Tempo continua a correr como o vento
O ano passou e me fez novos planos
Insano! Nem perguntou o que eu queria
Deveria eu ter explicado?
Pensei que ele saberia. Que escolheria o certo
Saudade não é um verbo que eu conjugaria 
Mas o tempo disse que saudade não é verbo
E ele é quem sabe sobre a vida.

Do portão de casa posso ver a rua,
Posso ver o poço, os carros posso ver.
Lembro de você, dá um vazio
Têm peças faltando em mim
Faz frio, não chove,
O tempo não está a fim.
Do portão da minha casa o mundo posso ver
Os pássaros cantarem, as folhas caírem, o Sol poer...

Troco de fuso só pra confundir
Dá um tempo, Tempo, preciso refletir
Quantas horas faltam para o dia acabar?
Quanto ar de solidão ainda tenho que aspirar?
Até ver de novo os seus lábios
Perder-me no seu espaço
A anos-luz daqui!

A quem quero enganar?
Tempos bons que não vão voltar.
Sinto falta dos seus apertados abraços 
E daquela cara de medo
Quando pensávamos que isso tudo pudesse acabar,
É... acabou... não foi o fim do mundo.
- " Na segunda eu me mudo
Não posso mais ficar..."

Não morri, como poderia se ainda respiro você?
O tempo passou, chegou o fim do ano
Fiz novas amizades, novos planos,
Meu coração que continua vazio
A pressa pede calma
Pois é tempo de saudade.
Não vou ficar sozinho,
Tão pouco é hora de carinho.


O Tempo é que me leva,
Ele que dita as regras.
A minha voz não tem vez
Mais um recomeço, tudo outra vez.
"Mas nem tudo é de novo aquilo que já foi",
Só me resta esperar como a história se formará,
Até que tudo esteja dito e feito.
O Tempo é que cria, eu só deixo do meu jeito.
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