quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Filha da Água


  (Arte: Jean F Souza )

Sou filha do solo e a água é minha verdadeira mãe, no centro de um país tropical enfinquei minhas raízes, onde nasceram meus filhos e netos, tão numerosos quanto a extensão desse chão.

Já velha, sou baixa e enrugada. Há quem me chame de “casca grossa”, sou até simpática, mas em verdade estou bem acostumada ao forte sol da região, e a baixa umidade não me assusta tanto quanto uns tais imigrantes.

Crio animais de várias espécies e cores e cubro cuidadosamente o solo com cobertura orgânica que o mantêm úmido e fértil. Mas esses novos moradores não entendem o sistema e ateiam fogo as minhas plantações para limpar o terreno e vão matando meu pai. Enquanto já não posso respirar e meus animais se escondem assustados, chuvas de cinzas caem do céu espalhando a morte canto a canto.

Meu corpo queima, mas meu grito não se faz ouvir, o que eu chamava de casa está entregue as labaredas. Tudo ao meu redor é negro, arde e transpira, como um último suspiro em vida.

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