quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Filha da Água


  (Arte: Jean F Souza )

Sou filha do solo e a água é minha verdadeira mãe, no centro de um país tropical enfinquei minhas raízes, onde nasceram meus filhos e netos, tão numerosos quanto a extensão desse chão.

Já velha, sou baixa e enrugada. Há quem me chame de “casca grossa”, sou até simpática, mas em verdade estou bem acostumada ao forte sol da região, e a baixa umidade não me assusta tanto quanto uns tais imigrantes.

Crio animais de várias espécies e cores e cubro cuidadosamente o solo com cobertura orgânica que o mantêm úmido e fértil. Mas esses novos moradores não entendem o sistema e ateiam fogo as minhas plantações para limpar o terreno e vão matando meu pai. Enquanto já não posso respirar e meus animais se escondem assustados, chuvas de cinzas caem do céu espalhando a morte canto a canto.

Meu corpo queima, mas meu grito não se faz ouvir, o que eu chamava de casa está entregue as labaredas. Tudo ao meu redor é negro, arde e transpira, como um último suspiro em vida.


Com o tempo me revitalizo, renasço das cinzas, espalho o verde e convido animais sobreviventes para serem meus vizinhos. A cada ano me empobreço mais, e mais sozinha eu fico. Não sei quanto mais poderei renascer, nem quanto tempo levaria para me reconstituir por inteira.

Selvagens devastadores torturam e matam meus amigos enquanto os deles cometem o pecado da gula em extensas pastagens que um dia já foram propriedades minhas.

Fui a capital, na verdade ela veio a mim, e em pouco tempo já não tinha espaço para esta velha por lá. Pouco me adiantou o progresso chegar.

A terra já não é dona de si, modernos agricultores, apossadores de terrenos alheios, expulsaram-me, serraram meus pés, ainda hoje posso ver a seiva jorrar, um dos poucos lugares que ainda posso estar é no colo de minha mãe.

Cinquenta metros em torno dos rios para que a Água não se revolte e também desapareça, com sorte ela ainda não perceba a judiaria que fizeram à sua filha, que carrega no sobrenome o peso de uma linhagem quase perdida: Flora Nativa do Cerrado Brasileiro.

9 comentários:

  1. Puxa, você é muito criativo! Eu queria poder dizer que todos os textos do meu blog são de minha autoria...

    http://psixani.blogspot.com/

    Mas ainda estou começando, quem sabe um dia, né?

    Ah, se você puder me dar uma forcinha, ficarei muito contente! Bjo!

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  2. Bela postagem meu amigo,,,parabéns pelo blog...obrigado pela visita...abraços de boa tarde pra ti.

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  3. Ja que perdi o sono sai sem rumo pela net e encontrei ser blog.
    Gostei muito da sua postagem tens um lido poema aqui que também gostei muito.
    Já seguindo seu blog desejo um feliz final de semana beijos meus.
    Evanir

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  4. Oi, Jean!

    Vim te agradecer muito pela visita e pelos elogios, e dizer que você será sempre bem vindo ao meu blog... Bom dia pra você! Beijo!

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  5. Criatividade, visão e talento.
    Adorei!Estarei sempre por aqui.

    Beijo!

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  6. Olá Jean,

    Visualizei o seu blog, ocasionalmente, e lhe dou os meus parabéns.
    Escreve de forma intensa, corpórea, desabrida. Na poesia revela o seu espírito denso, arrebatador, amargurado, até.
    É muito jovem, para escrever tão bem, assim. Está na sua essência, já entendi.

    Abraços de luz.

    afectosecumplicidades.blogspot.com

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  7. hii salam kenal iya dari vira .. :)
    jangan lupa mapir keweb vira iya di http://www.rumahkiat.com/ vira mau berbagi pengalaman nih.:)
    wah bagus juga iya blog ka2 ... ^_^ good luck iya..
    SALAM BLOGER INDONESIA!! ^__^

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  8. Boa tarde Jean,

    Agradeço o seu bonito e feliz comentário em meu blog.
    Precisamos de novos escritos, né?

    beijos de luz.

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  9. Oi Jean,

    Como estás?
    Passei para dar uma espiadinha e te desejar bom domingo.

    Beijos de luz.

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