sábado, 21 de abril de 2012

Brasília em minhas mãos



"Os que moram em Brasília moram confortavelmente, em apartamentos bons, com bons serviços. Mas os que moram nas cidades-satélites estão completamente abandonados. É horrível, uma grande favela. É um contraste que nós, arquitetos que nos interessamos por problemas políticos, não podemos aceitar."

Oscar Niemeyer

O traço pode ser do Niemeyer, do Lúcio,
Mas foram minhas mãos
Que encheram de concreto,
Que alisaram até que ficasse certo,
Que se encheram de calos, de pó,
Que se feriram,
Tolos, viemos do país todo,
Vivíamos e construíamos o sonho,
Que não era feito para nós.

Brasília, essa senhora de 50 e tantos,
Só me recebe bem  de vez em quando,
Já caduca, cheia de atos falhos
Convidou-me para sua festa de aniversário,
Mas nunca decorou meu nome
Só o número da minha carteira de trabalho.

Só não se esqueça, velha ingrata,
Que foi a minha força que curvou teu aço,
Pouco me importa a sua depressão pós-parto,
Seja mãe e não madrasta.
Vestida de gala, esperando legiões de visitas,
Ignora as filhas, regiões administrativas.

Ninguém negará a beleza de suas formas
E a ideologia que elas representam,
Todos já perdemos o ar com suas linhas tortas,
Maravilhando-nos à sua presença,
Mas muito de amor já se tem falado
E a minha simpatia se cansou com o seu descaso.

Eu sou jardineiro,
Não mereço morar numa cidade jardim?
Eu sou pedreiro e não há monumentos aqui
Nossas praças não me chamam atenção.
Minha casa é mais uma da invasão,
Esperando ser legalizada,
Ser asfaltada.
Educação, saúde, segurança,
É pedir muito Capital da Esperança?
Residir e não amar é triste,
Eu moro numa cidade satélite.

Numa irônica e anacrônica verdade,
Meus filhos sofrem a sina que a geração ultrapassa,
Enchendo ônibus de sonhos e humildade.
Tendo as oportunidades tão longe de casa.
Saía BSB, da tua área de tombamento e perceba:
É o teu povo que é Patrimônio Cultural da Humanidade.

Eu quero ver Brasília em:
Planaltina, Cruzeiro, Itapoã, Brazlândia,
Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Candangolândia,
Santa Maria, Samambaia, Gama, Ceilândia,
Sobradinho I, Riacho Fundo II,
Sobradinho II, Riacho Fundo I,
Vicente Pires, Guará, São Sebastião,
Recanto das Emas, Paranoá, Varjão,
Eu quero Brasília ao alcance de minhas mãos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quando eu crescer...



Ainda consigo ver aquele menino em mim,
Mas o tempo que me instruiu também me mudou.
As semanas divertidas que chegavam ao fim
Me deram um novo rosto.

Agora que eu já sei definir quem sou
Resta saber quem amo.
A barba que era meu orgulho
Hoje é só mais um incômodo.

Passada a puberdade e suas complicações,
Eu prossigo sem perceber:
A falta que me faz.

A metamorfose se completa sem grandes revelações,
Agora que eu ja sei o que vou ser,
Ninguém me pergunta mais.

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